quarta-feira, 12 de maio de 2010

Literatura Brasileira - Modernismo segunda fase

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ATENCIOSAMENTE, JORNALISTA ROSA RODRIGUES - JP.: 2283/GO.






Índice

01 – Introdução

02- Desenvolvimento

– Características Modernismo (Segunda Fase)


03 - Produção Literária

– Murilo Mendes - Leitura
– Jorge Lima - Leitura
– Carlos Drummond de Andrade - Leitura
– Cecília Meireles - Leitura
– Vinícius de Moraes - Leitura

04 - Principais Autores e Obras

05 - Conclusão

06 - Perguntas

07 - Bibliografia


Modernismo – Segunda Fase

Introdução


Recebendo como herança todas as conquistas da geração de 1922, a segunda fase do modernismo brasileiro se estende de 1930 a 1945.
Período extremamente rico tanto quanto à produção poética como à prosa, reflete um conturbado momento histórico: no plano internacional, vive-se a depressão econômica, o avanço do nazi-fascismo e a Segunda Guerra Mundial; no plano interno, dá-se a ascensão de Getúlio Vargas e a consolidação de seu poder com a ditadura do Estado Novo. Assim é que, a par das pesquisas estéticas, o universo temático se amplia e o artista apresenta-se preocupado com o destino dos homens, o “estar-no-mundo”.

Em 1945, com o fim da guerra, as explosões atômicas, a criação da ONU e, no plano nacional, a derrubada de Getúlio Vargas, abre-se um novo período na história literária do Brasil.



Desenvolvimento




Características do Modernismo – Segunda Fase

A poesia desta fase do modernismo representa um amadurecimento e um aprofundamento das conquistas da geração de 1922, percebendo-se, inclusive, a influência exercida por Mário e Oswald de Andrade sobre os jovens que iniciaram suas produções poéticas após a realização da Semana. Lembramos, a propósito, que Carlos Drummond de Andrade dedica seu livro de estréia, Alguma poesia (1930), a Mário de Andrade; Murilo Mendes, com seu livro História do Brasil, segue a trilha aberta por Oswald, repensando a nossa história com muito humor e ironia:

Festa familiar

Em outubro de 1930
Nós fizemos – que animação!
Um pic-nic com carabinas.


Formalmente, os nosso poetas continuam a pesquisa estética iniciada na década anterior, cultivando o verso livre, a poesia sintética:

Cota zero

Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?


(ANDRADE, Carlos Drummond de in: Obra
completa. 2.ed. Rio de Janeiro, Aguilar, 1967. p.
71.)



Entretanto, é na temática que se percebe uma nova postura do artista, que passa a questionar com maior vigor a realidade e, fato extremamente importante, passa a se questionar tanto um como um indivíduo em sua
tentativa de exploração e de interpretação de estar-no-mundo”, como em seu papel de artista. O resultado é uma literatura mais construtiva e mais politizada, que não quer e não pode se afastar das profundas transformações ocorridas nesse período; daí também o surgimento de uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo, como fruto dessa inquietação: é o caso de Cecília Meireles, de uma fase de Murilo Mendes, Jorge Lima e Vinícius de Moraes.

De qualquer forma é um tempo de definições, de compromisso, de aprofundamento das relações do eu com o mundo, mesmo com a consciência da fragilidade do eu. Observamos três momentos de Carlos Drummond de Andrade em seu livro Sentimento do mundo (o título é significativo), com poesias escritas entre 1935 a 1940:


Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo

(
“Sentimento do mundo ”)


Mais adiante, em verdadeira profissão de fé, declara:


Não, meu coração não é maior que o
mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
Por isso me grito.
Por isso frequento os jornais, me
exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.


(
“Mundo grande”)



Essa consciência de ter
apenas ” duas mãos e o mundo ser tão grande, longe de significar derrotismo, abre como perspectiva única para enfrentar esses tempos difíceis a união, as soluções coletivas:


O presente é tão grande, não nos afastemos,
Não nos afastemos muito, vamos de mãos
dadas.

(
“Mãos dadas”)




Produção Literária

Murilo Mendes


Murilo Monteiro Mendes nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1901. Ainda menino, transfere-se para Niterói, onde conclui seus estudos secundários. Em 1953 muda-se para a Europa, percorrendo vários países. Falece em Portugal em 1975.

Murilo Mendes é um poeta de curiosa trajetória no Modernismo brasileiro: das sátiras e poemas-piadas ao estilo oswaldiano, caminha para uma poesia religiosa, sem perder contato com a realidade social; o próprio poeta afirma que o social não se opõe ao religioso. Tal fato lhe permite acompanhar todas as transformações vividas pelo século XX, quer no campo econômico e político – a guerra foi tema de vários de seus poemas - , quer no campo artístico, sendo o poeta modernista brasileiro mais identificado com o Surrealismo europeu.

Já em seu livro de estréia – Poemas (1930) – apresenta novas formas de expressão, versos vivíssimos e livre associação de imagens e conceitos, características presentes em toda a sua trajetória poética.

A partir de Tempos e Eternidade (1935), escrito em parceria com Jorge Lima, Murilo Mendes parte para a poesia religiosa, mística, de “restauração da poesia em Cristo”. Sua obra ganha em densidade, uma vez que, ao lado de um dilema entre a Poesia e a Igreja, o finito e o infinito, o material e o espiritual, o poeta não abandona a temática social. Surge daí a consciência do caos, de um mundo esfacelado, de uma civilização decadente: uma constante na obra de Murilo Mendes. O trabalho do poeta é tentar ordenar esses caos,, utilizando-se para isso do trabalho poético, sua lógica, sua criatividade, sua libertação. São significativos os títulos de seus livros: A poesia em pânico, O visionário, As metamorfoses, Mundo enigma, Poesia liberdade.


Leitura

Modinha do emprego de Banco
Murilo Mendes


Eu sou triste como um prático de farmácia,sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulhermas só ouço o tectec das máquinas de escrever.Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.Quantas meninas pela vida afora!E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.Se eu tivesse estes contos punha a andara roda da imaginação nos caminhos do mundo.E os fregueses do Bancoque não fazem nada com estes contos!Chocam outros contos para não fazerem nada com eles.Também se o diretor tivesse a minha imaginaçãoo Banco já não existiria maise eu estaria noutro lugar.

Obras


Murilo Mendes (1901- 1975) – História do Brasil; A poesia em pânico; O visionário; As metamorfoses; Mundo enigma; Poesia liberdade; Contemplação de Ouro Preto (poesia); O discípulo dos Emaús; A idade de serrote; Poliedro (prosa).



Produção Literária

Jorge Lima



Jorge Mateus de Lima nasceu em 1895 em União dos Palmares, Alagoas. Em 1926, já formado em Medicina, ingressa na vida política, elegendo-se deputado estadual pelo Partido Republicano; em 1930, por motivos políticos é obrigado a abandonar Alagoas, indo viver no Rio de Janeiro. Falece em 1953, no Rio de Janeiro.

A exemplo de Murilo Mendes, Jorge de Lima também trilhou caminhos curiosos na literatura brasileira: de poeta parnasiano em XIV alexandrinos, chega a uma poesia paralela a uma poesia religiosa.

A poesia social apresenta belas composições quando Jorge de Lima assume a coloração regional, usando a memória de um menino branco marcado por uma infância repleta de imagens dos engenhos e de negros trabalhando em regime de escravidão:



A filha de Pai João tinha um peito de
Turina para os filhos de Ioiô mamar:
Quando o peito secou a filha de Pai João
Também secou agarrada num
Ferro de engomar.
A pele de Pai João ficou no cabo
Da enxada e da foice.
A mulher de Pai João o branco
A roubou para fazer mucamas.

(“Pai João”)


A partir de Tempos e eternidade há a preocupação da “restauração da Poesia em Cristo” em trabalho conjunto com Murilo Mendes, onde se observa a luta entre o material e o espiritual, temática que aparece também em A única inconsútil e Anunciação e encontro de Mira-Celi.

Em Invenção de Orfeu, a moda de Camões e Dante, escreve um poema épico em dez cantos, enfocando a luta de um homem indeciso entre o material e o espiritual.




Leitura

Mulher proletária
Jorge de Lima

Mulher proletária — única fábricaque o operário tem, (fabrica filhos)tuna tua superprodução de máquina humanaforneces anjos para o Senhor Jesus, forneces braços para o senhor burguês.Mulher proletária, o operário, teu proprietáriohá de ver, há de ver:a tua produção,a tua superprodução,ao contrário das máquinas burguesassalvar o teu proprietário.


Obras

Jorge de Lima (1895-1953) – XIV alexandrianos; O mundo do menino impossível; Tempo e eternidade (com Murilo Mendes); Quatro poemas negros; A túnica inconsútil; Livro de sonetos; Anunciação e encontro de Mira-Celi; Invenção de Orfeu (poesia); Salomão e as mulheres; Calunga; Guerra dentro do beco (prosa).




Produção Literária

Carlos Drummond de Andrade



Carlos Drummond de Andrade nasceu em 1902, em Itabira, Minas Gerais, região rica em ferro.

Alguns anos vivi em Itabira
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.

(“Confidência do itabirano”)


Faz seus primeiros estudos em Minas Gerais. Em 1918, estuda como interno no Colégio Anchieta, da Companhia de Jesus, em Friburgo, sendo expulso no ano seguinte, após um incidente com seu professor de Português. Forma-se em Farmácia, mas vive de lecionar Português e Geografia em Itabira. Em 1934, transfere-se para o Rio de Janeiro, assumindo um cargo público no Ministério da Educação.

A partir da década de 1950, Drummond dedica-se integralmente à produção literária; além, de novos livros de poesias, contos e algumas traduções,m intensifica o seu trabalho de cronista. Morre no Rio de Janeiro, em 1987.

Carlos Drummond de Andrade é, sem dúvida, o maior nome da poesia contemporânea brasileira. Sua obra poética acompanha a evolução dos acontecimentos, registrando todas as “coisas” (síntese de um universo fechado, despersonificado) que o rodeiam e que existem na realidade do dia-a-dia. São poesias que refletem os problemas do mundo, do ser humano brasileiro e universal diante dos regimes totalitários, da Segunda Guerra, da Guerra Fria.

Assim, o poeta é possuído de alguns momentos de esperança para, logo adiante, torna-se descrente, desesperançado com o rumo dos acontecimentos.

A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

(“Segredo”)




Mas é acima de tudo um poeta que nega todas as formas de fuga da realidade; seus olhos atentos estão voltados para o momento presente e vêem, como regra primeira para uma possível transformação da realidade, a união, o trabalho coletivo (“vamos de mãos dadas”).

Mãos dadas

não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes, a vida presente.


(ANDRADE, Carlos Drummond de in:
Obra icompleta. 2. ed. Rio de Janeiro, Aguilar. 1967. p.11.)



É interessante notar que, em várias passagens, Drummond insiste em mostrar a impossibilidade de o homem, sozinho, realizar alguma coisa:

porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de
Manhattan

(“Elegia 1938”)

sozinho no escuro/qual bicho do mato

(“José”)

Em 1962, Carlos Drummond de Andrade seleciona poemas para a edição de sua Antologia poética; no prefácio, o próprio poeta explica o critério de seleção e divide os poemas escolhidos em nove grupos. Transcrevemos, a seguir, um trecho do prefácio:




O texto foi distribuído em nove seções, cada uma contendo material extraído de diferentes obras, e disposto segundo uma ordem interna. O leitor encontrará assim, como pontos de partida ou matéria de poesia: 1) O indivíduo; 2) A terra natal; 3) A família; 4) Amigos; 5) O choque social; 6) O conhecimento amoroso; 7) A própria poesia; 8) Exercícios lúcidos; 9) Uma visão, ou tentativa de, da existência.

Algumas poesias caberiam talvez em outra seção que não a escolhida, ou em mais de uma. A razão da escolha está na tônica da composição, ou engano do autor. De qualquer modo, é uma arrumação, ou pretende ser.



Leitura


Morte do leiteiro
Carlos Drummond de Andrade

Há pouco leite no país,é preciso entregá-lo cedo.Há muita sede no país,é preciso entregá-lo cedo.Há no país uma legenda,que ladrão se mata com tiro.Então o moço que é leiteirode madrugada com sua latasai correndo e distribuindoleite bom para gente ruim.Sua lata, suas garrafase seus sapatos de borrachavão dizendo aos homens no sonoque alguém acordou cedinhoe veio do último subúrbiotrazer o leite mais frioe mais alvo da melhor vacapara todos criarem forçana luta brava da cidade.


Na mão a garrafa brancanão tem tempo de dizeras coisas que lhe atribuonem o moço leiteiro ignaro,morados na Rua Namur,empregado no entreposto,com 21 anos de idade,sabe lá o que seja impulsode humana compreensão.E já que tem pressa, o corpovai deixando à beira das casasuma apenas mercadoria.


E como a porta dos fundostambém escondesse genteque aspira ao pouco de leitedisponível em nosso tempo,avancemos por esse beco,peguemos o corredor,depositemos o litro...Sem fazer barulho, é claro,que barulho nada resolve.


Meu leiteiro tão sutilde passo maneiro e leve,antes desliza que marcha.É certo que algum rumorsempre se faz: passo errado,vaso de flor no caminho,cão latindo por princípio,ou um gato quizilento.E há sempre um senhor que acorda,resmunga e torna a dormir.


Mas este acordou em pânico(ladrões infestam o bairro),não quis saber de mais nada.O revólver da gavetasaltou para sua mão.Ladrão? se pega com tiro.Os tiros na madrugadaliquidaram meu leiteiro.Se era noivo, se era virgem,se era alegre, se era bom,não sei,é tarde para saber.



Mas o homem perdeu o sonode todo, e foge pra rua.Meu Deus, matei um inocente.Bala que mata gatunotambém serve pra furtara vida de nosso irmão.Quem quiser que chame médico,polícia não bota a mãoneste filho de meu pai.Está salva a propriedade.A noite geral prossegue,a manhã custa a chegar,mas o leiteiroestatelado, ao relento,perdeu a pressa que tinha.


Da garrafa estilhaçada,no ladrilho já serenoescorre uma coisa espessaque é leite, sangue... não sei.Por entre objetos confusos,mal redimidos da noite,duas cores se procuram,suavemente se tocam,amorosamente se enlaçam,formando um terceiro toma que chamamos aurora.


Obras

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) – Algumas poesias; Br4ejo das almas; Sentimento do mundo; A rosa do povo; Claro enigma; viola de bolso; Fazendeiro do ar; Viola de bolso novamente encordoada; Lições de coisas, Versiprosa; Boitempo; Reunião; As impurezas do branco; Menino antigo; O marginal Clorindo Gato; Corpo (poesia); Confissões de minas; O gerente; Contos de aprendiz (prosa).


Produção Literária
Cecília Meireles



Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 1901, no Rio de Janeiro. Órfã de pai e mãe desde os três anos de idade, foi criada pela avó materna. Em 1917 forma-se na Escola normal do Rio, dedicando-se ao magistério primário. Estréia em livro com espectros (1919). A partir da década de 30, leciona Literatura Brasileira em várias universidades. Morre em 1964, no Rio de janeiro.

Cecília Meireles inicia-se na literatura participando da chamada corrente espiritualista, sob a influência dos poetas que formariam o grupo da revista Festa, de inspiração neo-simbolista. Posteriormente afasta-se desses artistas, sem contudo, perder as características intimistas, introspectivas, numa permanente viagem interior. Em vista desses fatores, sua obra reflete uma atmosfera de sonho, de fantasia e, ao mesmo tempo, de solidão e padecimento.

Um dos aspectos fundamentais da poética de Cecília Meireles é sua consciência da transitoriedade das coisas; por isso mesmo, o tempo é personagem central em sua obra: o tempo passa, é fugido.

Ao lado de uma linguagem que valoriza os símbolos, de imagens sugestivas com constantes apelos sensoriais, uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de seus versos e as brilhantes alterações:


Rômulo rema


Cecília Meireles
Rômulo rema no rio.
A romã dorme no ramo,a romã rubra. (E o céu)
O remo abre o rio.O rio murmura.
A romã rubra dormecheia de rubis. ( E o céu)
Rômulo rema no rio.
Abre-se a romã.
Abre-se a manhã.
Rolam rubis rubros no céu.
No rio,Rômulo rema


Em Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles retoma uma forma poética de tradição ibérica, denominada romance (composição de caráter popular, escrita em redondilhas), para reconstruir o episódio da Inconfidência Mineira e extrair, de um fato passado, datado, limitado geográfica e cronologicamente, valores que são eternos e significativos para a formação da consciência de um povo. A própria autora afirma tratar-se de “uma história feita de coisas eternas e irredutíveis: de ouro, amor, liberdade, traições... ”

E exatamente para o mais eterno desses valores – a Liberdade – a poeta dedica uma das mais belas estrofes de nossa literatura. São versos escritos em redondilha maior (de sete sílabas poéticas):


Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
Liberdade, ainda que tarde
ouve-se em redor da mesa.
E a bandeira já está viva
e sobe na noite imensa.


E os seus tristes inventores
já são réus – pois se atreveram
a falar em liberdade.


Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda.


(Romanceiro da Inconfidência)




Leitura

Motivo


Cecília Meireles



Eu canto porque o instante existee a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta.Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento.Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se ficoou passo.Sei que canto. E a canção é tudo.Tem sangue eterno a asa ritmada.E um dia sei que estarei mudo:— mais nada.



Obras

Cecília Meireles (1901-1964) – Espectros; Nunca Mais; Metal rosicler; Viagem; Vaga música; Mar absoluto; Retrato natural; Romanceiro da Inconfidência; Solombra; Ou isto ou aquilo (poesia); Giroflê giroflá; Escolha seu sonho (prosa).




Produção Literária

Vinícius de Moraes

Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu em 1913, no Rio de Janeiro. Ei-lo segundo suas próprias palavras: “capitão-do-mato, poeta, diplomata, o branco mais preto do Brasil. Saravá”. Morreu em 1980, no Rio de Janeiro.

A exemplo de Cecília Meireles, o início de sua carreira está intimamente ligado ao neo-simbolismo da corrente espiritualista e à renovação católica da década de 30. percebe-se em vários de seus poemas dessa fase um tom bíblico, seja nas epígrafes, seja diluído nos versos. No entanto, o eixo de sua obra logo se desloca para um sensualismo erótico, o que vem acentuar uma contradição entre mo prazer da carne e a formação religiosa; destaque também para a valorização do momento, para um acentuado imediatismo – as coisas acontecem “de repente, não mais que de repente” - , ao mesmo tempo em que se busca algo mais perene. Desse quadro talvez resulte outra constante em sua poética: a felicidade e a infelicidade. Em várias oportunidades valoriza a alegria:

É melhor ser alegre que ser triste
A alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

(“Samba da bênção”)

Em outras ocasiões, no entanto, o poeta associa a inspiração poética à tristeza:


Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?

Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!

(“A um passarinho”)


Em outros momentos, busca provar que “tristeza não tem fim; felicidade sim”, e que isso independe da nossa vontade:

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas
simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste ...

(MORAES, Vinícius de. In: Obra poética.
Rio de Janeiro, Aguilar, 1968.p.587.)


A temática social também aparece em poemas de Vinícius, os quais lograram obter o mesmo grau de popularidade que suas composições voltadas para o amor, como é o caso de “Operário em construção”. Também é necessário salientar a importante participação de Vinícius na evolução da música popular brasileira (MPB) a partir da Bossa – Nova, em fins dos anos 90.

Leitura


A rosa de Hiroxima
Vinícius de Moraes

Pensem nas crianças mudas, telapáticasPensem nas meninas cegas, inexatasPensem nas mulheres rotas, alteradasPensem nas feridas como rosas cálidasMas so não se esqueça da rosa, da rosaDa rosa de Hiroxima, rosa hereditáriaA rosa radioativa estúpida e inválidaA rosa com cirrose a anti-rosa atômicaSem cor sem perfume sem rosa, sem nada

Obras

Vinícius de Moraes – (1913-1980) – O caminho para a distância; Forma e exegese; Ariana, a mulher; Cinco elegias; Para viver um grande amor (poesia), Orfeu da Conceição (teatro).




Conclusão



A segunda fase do Modernismo no Brasil é marcada pela grande Depressão mundial acirrou as tensões sociais e propiciou o avanço dos partidos de esquerda. O nazismo e o fascismo constituíram soluções autoritárias a que as burguesias nacionais recorreram para conter as forças de esquerda.


Foi em 1937 através da implantação de um golpe de Estado, o Estado Novo que tinha afinidades com o nazi-fascismo; a imagem de “Pai dos pobres”que Getúlio Vargas tentava vender e destinar a manipulação das classes trabalhadoras.



Com a deposição de Getúlio Vargas, em 1945, e a convocação de eleições diretas vieram as consequencias internas da derrota do nazi-fascismo na II Guerra Mundial (o Brasil tinha lutado, no exterior, ao lado dos Aliados; tornou-se insustentável manter aqui um regime similar ao de Hotler e Mussolini).



Os escravos por exemplo eram explorados não apenas no serviço pesado da lavoura, mas também numa vasta gama de tarefas domésticas, que incluíam amamentar “os filhos de Ioiô” (papel desempenhado pelas chamadas amas-de-leite) e auxiliar nos serviços caseiros ou acompanhar pessoas da família do senhor (incumbências da mucama). Essas duas figuras aparecem no poema “Pai João”, de Jorge de Lima.



Outro exemplo trata-se da era drummondiana, “Não serei o cantor de uma mulher...”. Com essas palavras (do poema “Mãos dadas”) Carlos Drummond de Andrade torna clara sua recusa á fuga da realidade representada pela idealização da figura feminina; nesse mesmo poema condena também outras formas de escapismo.



Essa portanto, foi a segunda fase do modernismo na literatura brasileira. Marcada de grandes evoluções na história política e social da nação. Representada por inesquecíveis nomes de poetas.



Perguntas

1 – No Brasil, quando inicia a Segunda Fase do Modernismo?


R: A segunda fase do Modernismo brasileiro se estende de 1930 a 1945.



2 – A segunda fase do modernismo é marcada por um período extremamente rico à produção poética e a prosa. Mas também é marcada por conturbado momento histórico internacionalmente. Quais são eles?


R: No plano internacional, vive-se a depressão econômica, o avanço do nazi-fascismo e a Segunda Guerra Mundial.


3 – A segunda fase do modernismo é marcada por um período extremamente rico à produção poética e a prosa. Mas também é marcada por conturbado momento histórico internamente. Quais são eles?


R: No plano interno, dá-se a ascensão de Getúlio Vargas e a consolidação de seu poder com a ditadura do Estado Novo.



4 – O ano de 1945, é marcado na história mundial. Quais são essas mudanças?


R: O fim da Segunda Guerra Mundial, as explosões atômicas, surge a criação da ONU e, no plano nacional, a derrubada de Getúlio Vargas e abre-se um novo período na história literária do Brasil.


5 – Carlos Drummond de Andrade insiste em mostrar a impossibilidade do homem. De que impossibilidade se trata?


R: É interessante notar que, em várias passagens, Drummond insiste em mostrar a impossibilidade de o homem, onde ele questiona que sozinho ele não realiza nada. Ele destaca a fragilidade do EU.

7 – A poesia social apresenta belas composições quando Jorge de Lima assume a coloração regional. De que época estamos
falando?


R: Trata-se da era da escravatura, onde o próprio autor usa a memória de um menino branco marcado por uma infância repleta de imagens dos engenhos e de negros trabalhando em regime de escravidão.


8 – Quais são as características da poesia na segunda fase do modernismo?


R: A poesia desta fase do modernismo representa um amadurecimento e um aprofundamento das conquistas da geração de 1922, percebendo-se, inclusive, a influência exercida por Mário e Oswald de Andrade sobre os jovens que iniciaram suas produções poéticas após a realização da Semana da Arte Moderna.


9 – Qual o comportamento do artista da segunda fase do modernismo?


R: O artísta passa a adotar uma nova postura, desde questionar com maior vigor a realidade, à forma de exploração e a interpretação do mundo. Passa a partir daí a construir uma literatura mais construtiva e mais politizada.


10 – Por que Murilo Mendes adota uma postura de dilema entre igreja e poesia?


R: Porque o próprio poeta afirma que o social não se opõe ao religioso, ou seja; ele passa a questionar a consciência do caos, de um mundo esfacelado, de uma civilização decadente. O trabalho do poeta é tentar ordenar esses caos, utilizando-se para isso do trabalho poético, sua lógica, sua criatividade, sua libertação. São significativos os títulos de seus livros: A poesia em pânico, O visionário, As metamorfoses, Mundo enigma, Poesia liberdade.


11 – Quais foram os grandes nomes do período Modernista na sua segunda fase na literatura brasileira ?


R: Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Vinícius de Moraes e Augusto Frederico Schmidt


12 – As obras Cecília Meireles refletem uma atmosfera de sonho, de fantasia e, ao mesmo tempo, de solidão e padecimento. Por que esse comportamento da escritora?


R: Porque para Cecília Meireles o tempo é personagem central em sua obra: o tempo passa, o tempo foge. Não volta jamais.


13 – Cite duas obras de Cecília Meireles?


R: Nunca Mais e Viagem.

14 – Quem foi Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes?


R: Popularmente conhecido como Vinícius de Moraes, conhecido pelos seus lindos poemas, também contribuiu para evolução da música popular brasileira (MPB) a partir da Bossa – Nova, em fins dos anos 90.


15 – Qual sua análise sobre a segunda fase do modernismo?


R: Marcou muito: desde o início Segunda Guerra ao término da mesma em 1945. período marcado pela força, por revoluções dentro da política brasileira, época de manipulação das classes trabalhadoras, manipulação total das forças maiores que representavam o Brasil, (Era VArgas), época que ficou conhecido como "O pai dos pobres". Período de evoluções políticas, sociais e culturais.








Bibliografia




Terra, Ernani. Gramática & Leitura – Para o 2º Grau. Volume Único – Curso Completo. Goiânia: Editora Scipione. 1994 p. 374.


Nicola, de José. Gramática & Leitura – Para o 2º Grau. Volume Único – Curso Completo. Goiânia: Editora Scipione. 1994 p. 374.