domingo, 5 de dezembro de 2010

8 anos sem o jornalista Tim Lopes


Vale lembrar e relembrar o caso e as nossas práticas no dia a dia no jornalismo.


Jornalista Rosa Rodrigues

Nascido em 18 de novembro de 1950, Arcanjo Antônio Lopes do Nascimento, cursou a faculdade de jornalismo, escreveu para grandes veículos de comunicação no eixo Rio e SP e seu último trabalho foi nas Organizações Globo, onde durante anos realizou o mais polêmico jornalismo investigativo brasileiro.

Tim Lopes, como era conhecido realizou investigações chegando a ganhar um dos prêmios mais cobiçados da classe jornalística, “Prêmio Esso de Jornalismo”, na época a matéria era sobre o tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro, depois disso, Tim recebeu uma denúncia de que no Morro do Alemão havia bailes funk, onde existia uma grande exploração sexual entre os adolescentes que ali frequentavam no dia 2 de junho de 2002, Lopes munido de uma câmera oculta subiu ao morro para mais uma vez fazer uma matéria investigativa. Porém, este já era alvo de investigação dos traficantes e foi aproximadamente às 17 horas daquele dia que Elias Pereira da Silva, o Eliás Maluco, junto com seus comparças o pegaram, torturaram e incineraram seu corpo entre dezenas de pneus.

Tamanho foi o choque para a sociedade e para a classe jornalística, desde então a sua coragem em nome da profissão serviu para debates sobre os limites que estes profissionais devem ter e principalmente até onde vale apena arriscar a ética em nome de uma verdade que nem sempre é absoluta.

De acordo com o seu caso, podemos perceber que nem sempre o veículo o qual você presta um serviço se responsabiliza por sua vida ou conduta. Aquilo que está além da sua pauta, passa a ser de sua resposanbilidade. No caso Tim Lopes e de tantos outros que se arriscam em prol da melhor matéria e destaque avaliado em prêmios, não são diferentes. A invasão de privacidade gera, além de riscos, a nítida sensação de chantagem para quem é alvo. E nem sempre o excesso na objetividade e verdade significa informação ou esclarecimento.

É dever do jornalista resguardar a sua moral pessoal perante os fatos; do contrário estará correndo riscos que servirão de exemplo como foi com Tim Lopes. O seu compromisso é investigar respeitando o espaço do outro e não ameaçando.

O episódio ocorrido com a equipe do jornal O Dia por milicianos que naquela ocasião comandavam uma favela em Realengo, no Rio de Janeiro e o caso Tim Lopes, ocorrido também em uma favela em 2001 na mesma cidade, nos levam a questionar o jornalismo praticado hoje nas redações do eixo Rio e São Paulo.

É de assustar novos profissionais que entram hoje no mercado, pois o Rio de Janeiro, tem se tornado alvo de violência contra jornalistas que tantam exercer sua profissão.
A imprensa, grande prejudicada, usa de seus direitos para defender a sua causa, mas por outro lado esquece que para ter acesso as informações nem sempre age de boa fé. Quando determinado jornalista é alvo de bandidos como ocorreu com Lopes ou com a equipe do jornal O Dia, a imprensa noticia o fato, mas não expõe para o público receptor da mensagem quais foram os meios utilizados para a captação daquela informação, a qual pretendia finalizar sem ser censurada.

Ao longo desses acontecimentos, percebemos que nossos jornalistas têm se valido dos mais mirabolantes recursos técnicos para o seu furo de reportagem.

Usar ferramentas que captam informações sem autorização, são métodos mais simples, utilizados e de grande conhecimento do alvo em investigação. Usar nomes ou profissão para quebrar barreiras e chegar a verdade dos fatos, também tem sido outra prática bastante utilizada. E bandido que é bandido, acaba sempre descobrindo essas artimanhas sem muitas dificuldades.

Talves essa não é a hora de questionar a violência existente nessas favelas e sim questionar a forma ilícita que profissionais de jornalismo vem usando para a obtenção da informação.

Quando cobramos de alguém um comportamento exemplar, a lógica exige o mesmo. E pelo o que percebemos e vemos diariamente, isso não vem ocorrendo.

O jornalismo vem vivendo hoje a sua era híbrida, ou seja; há o grande interesse econômico dos empresários da comunicação por trás de assuntos de grande relevância para a sociedade. Hoje, tem valido tudo em prol do imediatismo sem levar em consideração valores humanos. Ética, a cada dia tem sido somente tema de discussão em sala de aula ou em seminários de comunicação, na prática tem se tornado quase que nula no exercício da profissão.

É por isso que existem cada vez mais conflitos e violência entre o povo e a imprensa. Ninguém respeita ninguém. Cada um defende o seu ao mero favor sem se importar com a forma aplicada.

Como combater algo ilegal se são usados meios ilícitos para conseguir aquilo que deseja?
É preciso reavaliar a prática do Jornalismo Investigativo principalmente no Brasil, ao ponto de estabelecer normas mais seguras e respeitosas para a construção de boas reportagens. Do contrário, seremos a notícia de amanhã, pois para os bandidos, jornalista também é alvo de investigação. Pois valor humano, se pararmos para uma reflexão sobre tal questionamento, vamos discutir, discutir e talvés saírmos sem resposta. No mundo em que tudo é praticamente somado pelo valor de moeda, ou seja; onde o interesse particular sobresaí a qualquer outro valor, nos pegamos em direitos morais e éticos do profissional que hoje pauta, escreve e hierarquiza o valor da sua notícia ou da fonte que em prol da sua ideologia e interesse é capaz de submeter a qualquer coisa afim de ver a sua imagem exposta e reconhecida por tal feito.

Lá no início da civilização o homem por exemplo, tinha um coportamento de acordo com os interesses da coletividade, onde o indivíduo se via como parte da comunidade, não existia propriedade a qualidades morais pessoais, esse era o todo, fazia parte do todo de igual para igual.

Com a chegada da globalização, ética e moral passa ser questionada. O homem em sociedade passa a viver numa guerra travada em prol dos seus interesses, do seu individualism, da exploração do outro para a obtenção do seu sucesso, do seu status e no final, este recorre a moral e ética para justificar qualquer opressão que venha sofrer publicamente, opondo suas justificativas dizendo que fez em nome da verdade e do povo.

Quando ouvimos, lemos ou vemos atos ilícitos de utilização de métodos para conseguir por exemplo o furo de reportagem, assustamos, porém aceitamos porque quando a imprensa fala o povo na sua gramde maioria acredita e apoia. Porque tem certeza que a imprensa é “séria”. Mas será que realmente é?

Talvés essa seria a hora de quem gosta de ler ou ouvir notícia, passar a conhecer melhor a teoria e prática do jornalismo. Assim existirá menos engano e mais cobranças para a existência de uma imprensa séria que não fosse capaz dos piores meios para se fazer jornalismo, a base de off duvidosos e as vezes captados de forma também ilícita.


Mas de tudo isso, dos contras e a favores, Tim Lopes, sim será lembrado pelos seus brilhantes trabalhos e pela a coragem de ter enfrentado todos os obstáculos da profissão para fazer o melhor da notícia.



Valeu Tim Lopes, nosso anjo "Arcanjo" do jornalismo brasileiro.

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