Jornalista Rosa Rodrigues
A população da cidade do Rio de Janeiro parou no dia 12 de junho de 2000 para acompanhar ao vivo pela televisão o seqüestro do ônibus da linha 174 na rua Jardim Botânico. Durante cerca de quatro horas, o assaltante Sandro Nascimento manteve dez passageiros como reféns. O desfecho foi trágico. Depois de simular que havia matado uma das passageiras, o bandido desceu do ônibus usando a professora Geisa Firmo Gonçalves como escudo. Naquele momento, o soldado do Bope Marcelo de Oliveira Santos tentou matar o seqüestrador. As balas do policial, no entanto, não atingiram apenas a refém, que levou ainda dois tiros disparados pelo assaltante e morreu. O bandido foi asfixiado pelos policiais, enquanto era levado ao hospital Souza Aguiar.
Enquanto a Globo News ficou no ar, direto, com imagens dramáticas do episódio, a TV Globo manteve sua programação normal, inserindo flash’s em seus intervalos comerciais. A cobertura completa do seqüestro foi ao ar no Jornal Nacional daquela noite. Evandro Carlos Andrade, na época diretor da CGJ, explica a decisão da emissora: "Nós tivemos dúvida em relação à TV aberta, uma vez que havia o receio de o seqüestrador estourar a cabeça de uma das reféns e nós mostrarmos a cena. Entendemos, depois, que nossa decisão de não dar continuidade à cobertura foi um erro. O que nós devíamos ter feito e faremos daqui para frente era alertar permanentemente o público, os país, as famílias, para o risco de mostrarmos uma cena muito chocante. Cabe às famílias tomarem medidas de cautela. Nós achamos que devemos transmitir os acontecimentos. E, se fosse hoje, levaríamos ao ar também na TV aberta, porque é um fato que causa expectativa. E, se nós temos acesso, o público também deve ter. Caso contrário, estaremos censurando a informação."
Posicionando a questão, o tema da relação entre violência e televisão não é novo. Ambos estão estreitamente vinculados e constituem a temática da ordem do dia em várias sociedades, possuindo, portanto, um significado cultural. Na atualidade, essa relação que se torna cada vez mais sólida e freqüente tem despertado a atenção de diferentes setores da sociedade e de pesquisadores das ciências sociais e da comunicação, que buscam, com diferentes aportes, explicitar a intrigante e polêmica relação: violência e televisão.
Essas pesquisas, fundamentadas em diferentes perspectivas teóricas e estratégias metodológicas, têm produzido resultados contraditórios. Os pesquisadores coincidem em afirmar que é difícil determinara forma e a magnetude com que os conteúdos violentos, que habitam o cotidiano da televisão, afetam as pessoas, uma vez que a sociedade está composta por grupos, segmentos sociais e indivíduos que vivem em contextos pessoais, socioculturais e religiosos diferentes, dificultando, portanto, a generalização dos dados e a interpretação conclusiva dos resultados.
A preocupação que nos move nessa reflexão não recai sobre o estudo da violência em si, tampouco sobre os efeitos que os meios de comunicação causam no comportamento das pessoas ou grupos. O intento é mais simples: move-se no sentido de analisar como a violência é representada nas notícias dos informativos de televisão. Em outras palavras, buscamos recortar o espaço imaginário da televisão, investigando como se constrói a representação da violência por meio das notícias transmitidas nos telejornais de maior audiência no Brasil, respectivamente, Jornal Nacional (Rede Globo de Televisão) e (Jornal da Record de Televisão) no ano de 1999.
Interessa-nos, sobretudo, identificar como os noticiários de televisão constroem e trabalham um conjunto de representações inseridas no dia - a - dia do telespectador brasileiro, como também averiguar os processos de mediação e interação estabelecidos entre os discursos veiculados e a construção da realidade oferecida ao público.
O dia 12 de junho entra para a história da televisão brasileira como o dia em que os telespectadores assistiram pela primeira vez a uma execução ao vivo. O país surpreende-se com imagens de violência transmitidas diretamente do cenário do crime, no Rio de Janeiro. As cenas, enredas por imagens de extrema crueldade, foram captadas por uma câmara da Companhia de Engenharia de Tráfego da Prefeitura do Rio (os diálogos mantidos pelos personagens do drama não eram audíveis) e transmitidas pela TV a cabo Globo News e pela Rede Record. Dois estudantes de jornalismo da PUC/Rio também registraram a tragédia imagética, quando gravavam um programa para a TV Universitária.
Sandro, 20 anos, ex-menino de rua e sobrevivente da chacina da Candelária, assalta, no Dia dos Namorados, um ônibus urbano na zona sul carioca, tomando uma professora como refém, esse passageiro 174, juntamente com familiares, policiais, seqüestrador e espectadores parecem ser protagonistas de um filme de longa - metragem, com mais de quatro horas de duração. Entretanto, diferenças substantivas distinguem as cenas de violência urbana transmitidas ao vivo das cenas de violências das películas do cinema: a ausência de um roteiro previamente definido e a pouca ou nenhuma possibilidade de um final feliz.
Uma das reféns do seqüestro do ônibus, uma estudante de 20 anos, declara que procurou manter a calma durante o acontecimento."Vi que o bandido era passível de diálogo. Perguntei se ele sabia quem era a maior vítima da situação. Ele disse que não. Eu repondi: você."
Enquanto o diretor de jornalismo da Rede Globo elogia essa cobertura dramática, dizendo que: Se o público não tivesse testemunhado, engoliria versões oficiais".
O diretor da Rede Record, Luís Gonzaga Mineiro, na reportagem da revista IstoÉ, de 22/6/2000, admitiu pequenos excessos na cobertura da rede de televisão.”
Houve exagero por parte de ambas como a música de suspense que acompanhava a transmissão."
Ex-menino de rua, o seqüestrador é agora mais uma das vítimas da violência policial, depois da excussão de seus pares da Candelária. Em uma redação, Sandro, com ainda 13 anos, revela os desencontros de um país marcado por desigualdades econômicas e sociais estruturais:" Eles não são animais não. São crianças indefesas sem nenhuma riqueza". A identidade dos meninos de rua é assim construída pela negação e por uma atitude de defesa.
É nesse contexto sociomediático, em que a violência da tela goteja no imaginário dos telespectadores, que nos aproximamos do estudo das notícias de violência nos telejornais de cobertura nacional, analisando comparativamente os conteúdos informativos sobre violência veiculados, identificando os discursos em circulação que conduzem ao enquadramento da problemática, indicando o tratamento jornalístico oferecido e extraindo daí as formas de representação social da realidade da violência nos noticiários de televisão.
Por se tratar de um amplo e polêmico fenômeno, tanto do ponto de vista moral como ético, aproximamo-nos da problemática relação entre violência, televisão e cotidiano por meio da materialidade da notícia audiovisual, ou seja, investigando aquilo que é comum no material informativo produzido e veiculado, consumido pelos diferentes públicos, que assistem, aos noticiários de televisão e por meio deles se informam.
Para Max Weber, o homem é o início, o meio e o fim de toda a preocupação social do mundo moderno, altamente alienado pela massa de comunicação que o bombardeia no seu cotidiano, impedindo-o de criar atitudes críticas e indagadoras a respeito do sistema. Isto representa que o homem na sociedade para suprir seu sentimento de inferioridade, insegurança, impotência, a sua solidão e insignificância busca ideologias que apresentem respostas para os seus problemas ( geralmente respostas que sejam simples e amplas ), que não gerem desafios à sua compreensão e que dêem a ele a sensação de superioridade, poder e integração no meio social e natural a fim de que consiga viver em comunidade obtendo auto - estima e auto - realização principalmente na arena política. A ideologia como um conjunto de normas que define este indivíduo, regula e controla a conduta humana é personalizada, estruturalizada e tecnoburocraticamente essencial fruto da racionalidade que domina a atual sociedade e seus valores estão subordinados à essa eficiência dos tecnoburocratas.
Desde o século XIX a sociologia tem o seu papel de destaque em todo o universo, porque ela vem para interpretar a sociedade industrial, essa sociedade de desigualdades sociais, de estruturas planejadas como por exemplo; um hospital, uma empresa industrial, etc., aonde considera que há discordâncias , existem e têm de ser resolvidas ou moderadas pelas suas funções de adaptação, manutenção e integração e se por um instante tudo escapar do controle da estrutura dominante deixa de ser relevante no sistema e o sistema nem sempre tem a capacidade de ajustamento, porém sua mutação é constante dentro de uma determinação dos objetivos a atingir e, depois despersonalizando esse mesmo indivíduos.
De acordo com Henry Fayol: “O que é bom para a empresa é bom para o operário.”
Outra análise que se encaixa perfeitamente a esse dizer, é o filme - Tempos modernos de Charles Chaplin – onde faz uma sátira abordagem cientifica. Numa cena, o chefe faz com que Chaplin, o trabalhador, use a mão direita para operar uma máquina, depois nas duas mãos e a seguir os joelhos. Finalmente, o ator usa as mãos, os joelhos, os cotovelos e a cabeça para operar a máquina. Na sociedade capitalista, a empresa mudou, propós recompensas em qualidade e quantidade à medida que ele conseguirá acumular “centavos’’ e “símbolos’’ tendo a sensação da mobilidade vertical na pirâmide social, separou o empregado da família a fim de obter maior dominação e racionalização. Como conseqüência, houve maior especialização caracterizando as relações formais e gerando uma maior estratificação dos indivíduos. O homem passa a demonstrar fascinação pelas formas, mecanismos e exercícios do poder.
A partir deste momento, o grupo de pressão passa a conter um forte sentimento de identidade grupal, pois se apresenta bem organizado a fim de influenciar outros grupos, através da manipulação de dirigentes, no sentido de forçar mudanças ou atitudes, por exemplo, partidos políticos, sindicatos, instituições, o executivo e legislativo em determinadas situações é aí que encaixamos mais uma vez o papel da CGJ ( Central Globo de Jornalismo e demais programações de forma privada e discreta fazendo o uso dos veículos de comunicação de massa apara atingir as suas metas exercendo sua influência direta sobre a opinião pública , crenças e preferências de grupos sociais.
Portanto seu papel como lobby na sociedade brasileira apresenta de maneira deformada pelos desvios culturais tupiniquins ou seja; a negação da luta de classes, retirando a sua compreensão.
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