quinta-feira, 31 de março de 2011

A moderna sociedade brasileira – o mercado de bens simbólicos


Bye bye, Brasil Roberto Menescal e Chico Buarque – 1979


Oi, coração


Não dá pra falar muito não


Espera passar o avião


Assim que o inverno passar


Eu acho que vou te buscar


Aqui ta fazendo calor


Deu pane no ventilador


Já tem fliperama em Belém do Pará


Puseram uma usina no mar


Talvez fique ruim pra pescar Meu amor


No Tocantins


O chefe dos parintintins


Vidrou na minha calça Lee


Eu vi uns patins pra você


Eu vi um Brasil na tevê


Capaz de cair um toró


Estou me sentindo tão só


Oh, tenha dó de mim


Pintou uma chance legal


Um lance lá capital


Nem tem que ter ginasial


Meu amor


No Tabariz


O som é que nem os Bee Gees


Dancei com uma dona infeliz


Que tem um tufão nos quadris


Tem um japonês trás de mim


Eu vou dar um pulo em Manaus


Aqui ta quarenta e dois graus


O sol nunca mais vai se pôr


Eu tenho saudades da nossa canção


Saudades de roça e sertão


Bom mesmo é ter um caminhão


Meu amor


Babby, bye bye


Abraços na mãe e no pai


Eu acho que vou desligar


As fichas já vão terminar


Eu vou me mandar de trenó


Pra Rua do Sol,Maceió


Peguei uma doença em Ilhéus


Mas já to quase bom


Em março vou pro Ceará


Com a benção do meu orixá


Eu acho bauxita por lá


Meu amor Bye bye, Brasil


A última ficha caiu


Eu penso em vocês night and Day


Explica que ta tudo okay


Eu só ando dentro da lei


Eu quero voltar, podes crer


Eu vi um Brasil na tevê


Peguei uma doença em Belém


Agora já ta tudo bem


Mas ligação ta no fim


Tem japonês trás de mim


Aquela aquarela mudou


Na estrada peguei uma cor


Capaz de sair um toró


Estou me sentindo um jiló


Eu tenho tesão é no mar


Assim que o inverno passar


Bateu uma saudade de ti


To a fim de encarar um siri


Com a benção de Nosso Senhor


O sol nunca mais vai se pôr



A definição dos anos 40/50 como momentos de consumo, 60/70 consolidação dos bens culturais como televisão e mais tarde, meados dos anos 70, o cinema se afirma como indústria cultural e abrindo caminhos para outras esferas da cultura popular de massa como disco, publicidade... no entanto devemos refletir que no golpe militar de 64 por um lado, marcado pela dimensão política, pelas repressões, censuras, prisões, exílios e marcada também pela economia que no governo Juscelino os economistas referiam como a “Segunda Revolução Industrial” no Brasil, com sua reorganização econômica inserindo no processo de internacionalização, com o crescimento industrial, do mercado interno de bens materiais, envolvimento simbólico da cultura apontando problemas ideológicos.


Lembre-se, a censura possuía duas faces: repressiva - negando o conteúdo e não o meio, como nos teatros, cinemas, livros, editorial... A censura disciplinadora - afirmava e incentivava selecionando os mesmos meios.


É por isso que qualquer pessoa que se interessa pela historia cultural brasileira deste período tem que enfrentá-la, dimensioná-la aos efeitos e não confundir sua atuação. Propondo um raciocínio à ideologia da Segurança Nacional responsável pelo pensamento militar com a sociedade detendo o monopólio do poder aonde todos têm o dever de obedecer. Tal ideologia gera uma solidariedade orgânica, ou seja; entre partes com objetivos de repressão.


Para Joseph Comblim, esse Estado de Segurança Nacional não detém apenas o poder de repressão, mas se interessa também em desenvolver certas atividades, desde que submetidas à razão de Estado. Com o poder, que pode ser maléfico quando nas mãos de dissindentes em se tratando benéfico pelo poder autoritário, incentivando novas instituições como: Conselho Federal de Cultura – Instituto Nacional do Cinema – Embrafilme – Funarte – Pró-Memoria e o reconhecimento dos meios de comunicação de massa com a capacidade de difundir idéias e possibilidade de criar estados emocionais coletivos. Entre ditadura militar ao Estado Novo há duas ocasiões; 37 e 64 define-se sua política pela divisão autoritária desdobrando o plano da cultura pela censura e incentivo de determinadas ações culturais. No Governo Militar desenvolve atividades na esfera cultural, na era de Vargas surge instituições como Instituto Nacional do Livro, Instituto Nacional do Cinema Educativo, Museus e Bibliotecas, que os diferenciam é o quadro econômico distinto, entre grupos empresariais sendo orgânico e só depois, na década de 60 os mesmo assumem o capitalismo que aos poucos se desprende de sua insipiência.


Talvez o melhor exemplo da colaboração entre o regime militar e a expansão dos grupos privados como a televisão e em 1965 é criada a Embratel com uma política modernizada para as telecomunicações e o Brasil se associa ao Sistema Internacional de Satélites (Intelsat), 1967 cria-se o Ministério de Comunicações facilitando na sequência a interligação de todo o território nacional sem dificuldades tecnológicas nas quais a TV padecia na década de 50. Para Mauro Salles o programa brasileiro não aceita a paralisação do crescimento por tanto não deixa de ser curioso observar que o que legitima a ação dos militares no campo de telecomunicação é a própria ideologia da Segurança Nacional moralista de costumes e políticos. Um documento da Associação de Empresários de Teatro (1973), divulgado no auge da Ação repressiva, é significativo (não nos cabe analisar neste documento os efeitos do excessivo rigor da censura sobre a permanente e legítima aspiração de liberdade de expressão, para que os artistas e intelectuais formulem de maneira cada vez mais íntegra. Sua visão pessoal da temática que abordam em seu trabalho. Neste documento, o problema da censura esta sendo ventido, porque sua ação excessivamente rigorosa é um fato dos fatores conjunturais que prejudicam a sobrevivência econômica da empresa teatral). O mesmo tipo de crítica é feito pelos empresários do cinema no I Congresso da Indústria Cinematográfica Brasileira (1972) propondo reformulação dos critérios da censura. “Levando-se em conta a época atual o desenvolvimento da cultura, [pois] os cânones rígidos de antigamente não poderão prevalecer atualmente (...) nossa censura não acompanha a evolução dos costumes.


Tânia Pacheco afirmava que o objetivo dos empresários teatrais é sugerir um pacto com o poder, garantindo o financiamento das obras teatrais do estado e obras em geral. Em 1973 por sua vez TV Globo e Tupi assinaram um protocolo de auto censura para controlar o conteúdo de suas programações como Chacrinha e Derci Gonçalves, personagens de programas populares são redimensionados pela necessidade de garantir o pacto com os militares, pois os mesmos vêem como “degradante” para nossa formação. A censura “excessiva” é certamente um incomodo para o crescimento da indústria cultural, mas este é o preço a ser pago pelo fato de ser o pólo militar incentivador do próprio desenvolvimento brasileiro.


Vejamos a evolução da produção de 1966 aonde o governo criou o Geipag, órgão que implementa uma política para a indústria gráfica, favorecendo a importação de novas máquinas para a impressão, uma evolução acelerada de impressão em off-set em detrimento de outras formas como a tipografia e a fotogravura, mas não é somente o setor livreiro que se beneficia da política governamental, a indústria editorial se modernizando com a importação de novos maquinários e consequêntemente com o crescimento do mercado de revista. O caso exemplar é o da Editora Abril que hoje domina o mercado, fundada em 1950 por Victor Civita, inicia sua produção comprando o direito de publicar o Pato Donald no Brasil. Entre 50/59 edita 7 títulos; 60/69 sobe para 27; 70/79 os números crescem para 121 títulos. Ao longo desses anos não só o volume aumenta, mas a diversidade do que é editado. Até a década de 50 a Editora Abril se sustenta de suas fotonovelas (Capricho, Você, Ilusão, Noturno e o Pato Donald). Anos 60, as revistas especializadas como Transportes Modernos para Executivos, Máquinas e Metais, Quatro Rodas, Cláudia e os fascículos Curso Intensivo de Madureza, Pensadores, Conhecer e na década de 70 cresce a diversificação com Cebolinha, Luluzinha, Piu-Piu, Enciclopédia Disney e mais tarde é lançada manequim especializada em Moda, (Agulha de Ouro) Costura, (Forno e Fogão, Bom Apetite, Cozinha), Casa Cláudia, (Decoração) Cláudia, (Assuntos Gerais), Sexo (Playboy), Futebol (Placar), Navegação (Esportes Náuticos), Economia e Negócios, (Exame), cumprindo com o leitor aquilo esperado.


O cinema por sua vez obtém crescimento entre 71/94 público de 2003 para 250 milhões, 1980 cai 164 milhões devido a outras formas de lazer, em particular a Televisão. Em outros países como Japão, EUA, Inglaterra, Alemanha Ocidental, França e Itália entre 1946 a 1955 têm a sua evolução e declinando em 1970, responsabilizando bilheteria, fechamento dos cinemas de bairro indo estabelecer nos grandes centros, videocassete, a cabo, televisão comercial são responsáveis.


O mercado fonográfico de 1970 vegetava em seu crescimento, passa a desenvolver devido a aquisição de eletrodomésticos, 1967/80 surge a venda de toca-discos crescimento de 813%, fitas cassetes como hábitos de consumidores em automóveis e o LP, que foi introduzido em 1948 como produto barato porque antes na década de 60 era caro. A Som Livre, vinculada a TV Globo especializada no ramo da música da novela com a primeira trilha sonora “O Cafona” – 1976 se torna líder no mercado fonográfico, em 1982 detendo 25% do seu faturamento.


Penso que o melhor caracterizou no advento foi à consolidação da indústria cultural no Brasil com o desenvolvimento da televisão pois em 1970 existiam 4 milhões 259 mil domicílios com o aparelho, ou seja, 56% da população era atingida pelo veículo, 1982 o número passa a 15 milhões 855 mil, correspondendo 73% total de domicílios e assim consolidando esse hábito e a propaganda também considerando o Brasil recorde em divulgação análise feita por Maria Arminda Arruda, passando a existir grandes agências como Mauro Salles; JMM, Esquire... e só nos anos 60 que se intensifica a profissão de publicitário ganhando universidade e reconhecimento em nível superior criando escolas como: UFRJ 1968; ECA 1961; Associação Brasileira de Anunciantes, Conselho Nacional de Propaganda em 1964, Federação Brasileira de Marketing em 1968 e assim marca a especialização da área.


O rádio também acompanha suas mudanças na sociedade trabalhando com o sistema associado às análises de audiência, pois atinge determinada camada ou público mais com a restrição de mercado sofre uma concorrência com a TV cerrada criando a partir daí as redes nacionais que interagem com as regionais com único interesse econômico fortalecendo o rádio como alternativa publicitária e com menor investimento e com vozes masculinas e femininas criam personagens para anunciar os pedidos musicais, o sistema Globo de Rádio, formado por 13 emissoras AM e cinco FM, que atua nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia; a Transamérica, composta por 28 emissoras, atingindo os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Pará, Bahia, MG, Sergipe, Santa Catarina, Maranhão, Paraíba, DF; outros exemplos, Rede Capital de Comunicação, Rede Manchet5e de Rádio, caracterizando em padronização não só os programas são padronizados, mas a publicidade e até mesmo as vozes dos apresentadores. Vários sociólogos têm insistido na modernização da sociedade brasileira, implicou a mudança da mentalidade empresarial como afirma Fernando Henrique Cardoso.


A indústria Cultural não escapa a este processo de transformação, os capitães de indústria dos anos anteriores deve ceder lugar ao Manager. Os novos proprietários são homens de organização, e de certa forma se perdem na impessoalidade dos “Impérios” que construíram.


Quero aqui comparar dois tipos de empresários, Pipa Amaral, da antiga TV Rio sujeito de grandes idéias e Roberto Marinho da TV Globo, homem que acreditava naqueles que estavam do seu lado e por isso acreditou nos inovadores Walter Clark, Boni, entre outros para então realizar o sonho da TV tornando ela dominante, pois esses homens além de tudo uma visão empresarial determinada capazes de programarem o melhor da TV brasileira, tornando ela maior que os filmes e foi assim com determinações que a TV Globo chegou aonde está hoje, líder pois passou a ser dirigida por pessoas da área do Marketing e planejamento, a mesma idéia nos levam ao início do Jornal Folha de São Paulo fundado antes em 1921 com o nome Folha da Noite, passou por suas reformas nas redações, só em 1945 José Nabantino assume a direção com seu dinamismo estabelecendo premiações a quem mais escrevesse e como prêmio à compensação salarial extra.


Em 1956, o parque gráfico das folhas sobre seu estrangulamento para a empresa Nabantino desiste de ter 3 edições e passa a manter a Folha de São Paulo, mas em 1962, a folha é adquirida pelo grupo Frias cadeira e assim passando por uma profunda reforma tecnológica, econômica e comercial.


Hoje para a “Folha” o jornalismo tem que ser mais exato, mais agudo, mais agressivo, vender mais e aumentar sua circulação.


Portanto, se é possível apontar nos países europeus e nos EUA uma confusão de fronteira entre o realismo da Indústria Cultural e os movimentos críticos, muito embora teoricamente proceda a distinção entre um realismo reflexo e outro reflexivo. Eu diria que no Brasil esta interpenetração de domínio se dá de maneira acentuada e dessa forma a pesquisa, isto é, a tecnologia e a psicologia prescrevem conselhos fundamentados na autoridade cientifica, ao leito, com destaque para as fotonovelas uma busca da realidade passando por um processo de nacionalização do texto, das temáticas e da própria estrutura da linguagem.


O nível da ideologia professada se passa como se a televisão fosse não só o prolongamento das perspectivas utópicas que nortearam a produção cultural das décadas anteriores, mais o Lócus privilegiado de um trabalho político voltado para a massa.


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