Meu leiteiro tão sutilde passo maneiro e leve,antes desliza que marcha.É certo que algum rumorsempre se faz: passo errado,vaso de flor no caminho,cão latindo por princípio,ou um gato quizilento.E há sempre um senhor que acorda,resmunga e torna a dormir.
Mas este acordou em pânico(ladrões infestam o bairro),não quis saber de mais nada.O revólver da gavetasaltou para sua mão.Ladrão? se pega com tiro.Os tiros na madrugadaliquidaram meu leiteiro.Se era noivo, se era virgem,se era alegre, se era bom,não sei,é tarde para saber.
Mas o homem perdeu o sonode todo, e foge pra rua.Meu Deus, matei um inocente.Bala que mata gatunotambém serve pra furtara vida de nosso irmão.Quem quiser que chame médico,polícia não bota a mãoneste filho de meu pai.Está salva a propriedade.A noite geral prossegue,a manhã custa a chegar,mas o leiteiroestatelado, ao relento,perdeu a pressa que tinha.
Da garrafa estilhaçada,no ladrilho já serenoescorre uma coisa espessaque é leite, sangue... não sei.Por entre objetos confusos,mal redimidos da noite,duas cores se procuram,suavemente se tocam,amorosamente se enlaçam,formando um terceiro toma que chamamos aurora.
Obras
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) – Algumas poesias; Br4ejo das almas; Sentimento do mundo; A rosa do povo; Claro enigma; viola de bolso; Fazendeiro do ar; Viola de bolso novamente encordoada; Lições de coisas, Versiprosa; Boitempo; Reunião; As impurezas do branco; Menino antigo; O marginal Clorindo Gato; Corpo (poesia); Confissões de minas; O gerente; Contos de aprendiz (prosa).
Produção Literária
Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 1901, no Rio de Janeiro. Órfã de pai e mãe desde os três anos de idade, foi criada pela avó materna. Em 1917 forma-se na Escola normal do Rio, dedicando-se ao magistério primário. Estréia em livro com espectros (1919). A partir da década de 30, leciona Literatura Brasileira em várias universidades. Morre em 1964, no Rio de janeiro.
Cecília Meireles inicia-se na literatura participando da chamada corrente espiritualista, sob a influência dos poetas que formariam o grupo da revista Festa, de inspiração neo-simbolista. Posteriormente afasta-se desses artistas, sem contudo, perder as características intimistas, introspectivas, numa permanente viagem interior. Em vista desses fatores, sua obra reflete uma atmosfera de sonho, de fantasia e, ao mesmo tempo, de solidão e padecimento.
Um dos aspectos fundamentais da poética de Cecília Meireles é sua consciência da transitoriedade das coisas; por isso mesmo, o tempo é personagem central em sua obra: o tempo passa, é fugido.
Ao lado de uma linguagem que valoriza os símbolos, de imagens sugestivas com constantes apelos sensoriais, uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de seus versos e as brilhantes alterações:
Rômulo rema
Cecília Meireles
Rômulo rema no rio.
A romã dorme no ramo,a romã rubra. (E o céu)
O remo abre o rio.O rio murmura.
A romã rubra dormecheia de rubis. ( E o céu)
Rômulo rema no rio.
Abre-se a romã.
Abre-se a manhã.
Rolam rubis rubros no céu.
No rio,Rômulo rema
Em Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles retoma uma forma poética de tradição ibérica, denominada romance (composição de caráter popular, escrita em redondilhas), para reconstruir o episódio da Inconfidência Mineira e extrair, de um fato passado, datado, limitado geográfica e cronologicamente, valores que são eternos e significativos para a formação da consciência de um povo. A própria autora afirma tratar-se de “uma história feita de coisas eternas e irredutíveis: de ouro, amor, liberdade, traições... ”
E exatamente para o mais eterno desses valores – a Liberdade – a poeta dedica uma das mais belas estrofes de nossa literatura. São versos escritos em redondilha maior (de sete sílabas poéticas):
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
Liberdade, ainda que tarde
ouve-se em redor da mesa.
E a bandeira já está viva
e sobe na noite imensa.
E os seus tristes inventores
já são réus – pois se atreveram
a falar em liberdade.
Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda.
(Romanceiro da Inconfidência)
Leitura
Motivo
Cecília Meireles
Eu canto porque o instante existee a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta.Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento.Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se ficoou passo.Sei que canto. E a canção é tudo.Tem sangue eterno a asa ritmada.E um dia sei que estarei mudo:— mais nada.
Obras
Cecília Meireles (1901-1964) – Espectros; Nunca Mais; Metal rosicler; Viagem; Vaga música; Mar absoluto; Retrato natural; Romanceiro da Inconfidência; Solombra; Ou isto ou aquilo (poesia); Giroflê giroflá; Escolha seu sonho (prosa).
Produção Literária
Vinícius de Moraes
Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu em 1913, no Rio de Janeiro. Ei-lo segundo suas próprias palavras: “capitão-do-mato, poeta, diplomata, o branco mais preto do Brasil. Saravá”. Morreu em 1980, no Rio de Janeiro.
A exemplo de Cecília Meireles, o início de sua carreira está intimamente ligado ao neo-simbolismo da corrente espiritualista e à renovação católica da década de 30. percebe-se em vários de seus poemas dessa fase um tom bíblico, seja nas epígrafes, seja diluído nos versos. No entanto, o eixo de sua obra logo se desloca para um sensualismo erótico, o que vem acentuar uma contradição entre mo prazer da carne e a formação religiosa; destaque também para a valorização do momento, para um acentuado imediatismo – as coisas acontecem “de repente, não mais que de repente” - , ao mesmo tempo em que se busca algo mais perene. Desse quadro talvez resulte outra constante em sua poética: a felicidade e a infelicidade. Em várias oportunidades valoriza a alegria:
É melhor ser alegre que ser triste
A alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
(“Samba da bênção”)
Em outras ocasiões, no entanto, o poeta associa a inspiração poética à tristeza:
Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
(“A um passarinho”)
Em outros momentos, busca provar que “tristeza não tem fim; felicidade sim”, e que isso independe da nossa vontade:
Dialética
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas
simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste ...
(MORAES, Vinícius de. In: Obra poética.
Rio de Janeiro, Aguilar, 1968.p.587.)
A temática social também aparece em poemas de Vinícius, os quais lograram obter o mesmo grau de popularidade que suas composições voltadas para o amor, como é o caso de “Operário em construção”. Também é necessário salientar a importante participação de Vinícius na evolução da música popular brasileira (MPB) a partir da Bossa – Nova, em fins dos anos 90.
Leitura
A rosa de Hiroxima
Vinícius de Moraes
Pensem nas crianças mudas, telapáticasPensem nas meninas cegas, inexatasPensem nas mulheres rotas, alteradasPensem nas feridas como rosas cálidasMas so não se esqueça da rosa, da rosaDa rosa de Hiroxima, rosa hereditáriaA rosa radioativa estúpida e inválidaA rosa com cirrose a anti-rosa atômicaSem cor sem perfume sem rosa, sem nada
Obras
Vinícius de Moraes – (1913-1980) – O caminho para a distância; Forma e exegese; Ariana, a mulher; Cinco elegias; Para viver um grande amor (poesia), Orfeu da Conceição (teatro).
Conclusão
A segunda fase do Modernismo no Brasil é marcada pela grande Depressão mundial acirrou as tensões sociais e propiciou o avanço dos partidos de esquerda. O nazismo e o fascismo constituíram soluções autoritárias a que as burguesias nacionais recorreram para conter as forças de esquerda.
Foi em 1937 através da implantação de um golpe de Estado, o Estado Novo que tinha afinidades com o nazi-fascismo; a imagem de “Pai dos pobres”que Getúlio Vargas tentava vender e destinar a manipulação das classes trabalhadoras.
Com a deposição de Getúlio Vargas, em 1945, e a convocação de eleições diretas vieram as consequencias internas da derrota do nazi-fascismo na II Guerra Mundial (o Brasil tinha lutado, no exterior, ao lado dos Aliados; tornou-se insustentável manter aqui um regime similar ao de Hotler e Mussolini).
Os escravos por exemplo eram explorados não apenas no serviço pesado da lavoura, mas também numa vasta gama de tarefas domésticas, que incluíam amamentar “os filhos de Ioiô” (papel desempenhado pelas chamadas amas-de-leite) e auxiliar nos serviços caseiros ou acompanhar pessoas da família do senhor (incumbências da mucama). Essas duas figuras aparecem no poema “Pai João”, de Jorge de Lima.
Outro exemplo trata-se da era drummondiana, “Não serei o cantor de uma mulher...”. Com essas palavras (do poema “Mãos dadas”) Carlos Drummond de Andrade torna clara sua recusa á fuga da realidade representada pela idealização da figura feminina; nesse mesmo poema condena também outras formas de escapismo.
Essa portanto, foi a segunda fase do modernismo na literatura brasileira. Marcada de grandes evoluções na história política e social da nação. Representada por inesquecíveis nomes de poetas.
Perguntas
1 – No Brasil, quando inicia a Segunda Fase do Modernismo?
R: A segunda fase do Modernismo brasileiro se estende de 1930 a 1945.
2 – A segunda fase do modernismo é marcada por um período extremamente rico à produção poética e a prosa. Mas também é marcada por conturbado momento histórico internacionalmente. Quais são eles?
R: No plano internacional, vive-se a depressão econômica, o avanço do nazi-fascismo e a Segunda Guerra Mundial.
3 – A segunda fase do modernismo é marcada por um período extremamente rico à produção poética e a prosa. Mas também é marcada por conturbado momento histórico internamente. Quais são eles?
R: No plano interno, dá-se a ascensão de Getúlio Vargas e a consolidação de seu poder com a ditadura do Estado Novo.
4 – O ano de 1945, é marcado na história mundial. Quais são essas mudanças?
R: O fim da Segunda Guerra Mundial, as explosões atômicas, surge a criação da ONU e, no plano nacional, a derrubada de Getúlio Vargas e abre-se um novo período na história literária do Brasil.
5 – Carlos Drummond de Andrade insiste em mostrar a impossibilidade do homem. De que impossibilidade se trata?
R: É interessante notar que, em várias passagens, Drummond insiste em mostrar a impossibilidade de o homem, sozinho, realizar alguma coisa. Ele destaca a fragilidade do EU.
7 – A poesia social apresenta belas composições quando Jorge de Lima assume a coloração regional. De que época estamos
falando?
R: Trata-se da era da escravatura. onde o próprio autor usa a memória de um menino branco marcado por uma infância repleta de imagens dos engenhos e de negros trabalhando em regime de escravidão.
8 – Quais são as características da poesia na segunda fase do modernismo?
R: A poesia desta fase do modernismo representa um amadurecimento e um aprofundamento das conquistas da geração de 1922, percebendo-se, inclusive, a influência exercida por Mário e Oswald de Andrade sobre os jovens que iniciaram suas produções poéticas após a realização da Semana da Arte Moderna.
9 – Qual o comportamento do artista da segunda fase do modernismo?
R: O artísta passa a adotar uma nova postura, desde questionar com maior vigor a realidade, à forma de exploração e a interpretação do mundo. Passa a partir daí a construir uma literatura mais construtiva e mais politizada.
10 – Por que Murilo Mendes adota uma postura de dilema entre igreja e poesia?
R: Porque o próprio poeta afirma que o social não se opõe ao religioso, ou seja; ele passa a questionar a consciência do caos, de um mundo esfacelado, de uma civilização decadente. O trabalho do poeta é tentar ordenar esses caos, utilizando-se para isso do trabalho poético, sua lógica, sua criatividade, sua libertação. São significativos os títulos de seus livros: A poesia em pânico, O visionário, As metamorfoses, Mundo enigma, Poesia liberdade.
11 – Quais foram os grandes nomes do período Modernista na sua segunda fase na literatura brasileira ?
R: Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Vinícius de Moraes e Augusto Frederico Schmidt
12 – As obras Cecília Meireles refletem uma atmosfera de sonho, de fantasia e, ao mesmo tempo, de solidão e padecimento. Por que esse comportamento da escritora?
R: Porque para Cecília Meireles o tempo é personagem central em sua obra: o tempo passa, o tempo foge. Não volta jamais.
13 – Cite duas obras de Cecília Meireles?
R: Nunca Mais e Viagem.
14 – Quem foi Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes?
R: Popularmente conhecido como Vinícius de Moraes, conhecido pelos seus lindo poemas, também contribuiu para evolução da música popular brasileira (MPB) a partir da Bossa – Nova, em fins dos anos 90.
15 – Qual sua análise sobre a segunda fase do modernismo?
R: Marcou muito: desde o início Segunda Guerra ao término da mesma em 1945. período marcado pela força, por revoluções dentro da política brasileira, época de manipulação das classes trabalhadoras, manipulação total das forças maiores que representavam o Brasil, caso pelo atual presidente da época Getúlio Vargas, época que ficou conhecido como pai dos pobres. Período de evoluções políticas, sociais e culturais.
Bibliografia
Terra, Ernani. Gramática & Leitura – Para o 2º Grau. Volume Único – Curso Completo. Goiânia: Editora Scipione. 1994 p. 374.
Nicola, de José. Gramática & Leitura – Para o 2º Grau. Volume Único – Curso Completo. Goiânia: Editora Scipione. 1994 p. 374.