terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Análise sobre o livro Cidadania no Brasil – O longo Caminho e do filme, Deus e o Diabo na Terra do Sol

Análise da Jornalista Rosa Rodrigues sobre o livro Cidadania no Brasil – O longo Caminho do autor José Murilo de Carvalho e o filme, Deus e o Diabo na Terra do Sol de Glauber Rocha, uma obra de Guimarães Rosa




Para José Murilo de Carvalho, cidadania virou gente depois da constituição de 1988, ou seja; constituição cidadã. O fato de termos conquistado o direito de ir e vir e de voto entre outros direitos reservados, nem sempre o de expressar o que pensamos principalmente na imprensa, ainda é discutido em público, a começar também pelos direitos dos negros trazidos da África para sustentar a mão-de-obra e outras necessidades dos grandes proprietários aqui no Brasil. Analisando os escravos como minoria no campo de batalha à abolição, pois até 1888, 95% dos escravos descendentes de africanos já haviam conquistados sua liberdade ou fugido.

Revoltas contra as péssimas condições econômicas e o centralismo do Império marcou em 1837 em Salvador, a Revolta da Sabinada e deixou evidente em 1896, que a primeira expedição militar enviada a Canudos foi rechaçada pelos seguidores de Antônio Conselheiro.

A expressão mais adequada para o pressuposto acordo entre Minas e São Paulo seria “Café com Café”, pois o café produzido por Minas Gerais era bem inferior ao de São Paulo e exigia investimentos específicos, (transporte, tarifas públicas, tamanhos de propriedades e regime de trabalho eram distintos). Dificultando acordos, como por exemplo Afonso Pena, ele impunhava obstáculos para a viabilização do Convênio de Taubaté (1906 e 1913) primeira política de proteção ao café, pactuada pelos três Estados cafeicultores, com o objetivo de amenizar a crise do setor quase três anos depois. As regras eram as mesmas porém, mudavam apenas os acordos. No final da República Velha os demais parceiros abalaram o modelo político em vigor.

A expressão Café com Leite é uma especulação interessante, onde provavelmente a própria imprensa criou a expressão bem no final da década de 1920, isso porque foram encontrados registros anteriores, numa referência à aliança entre paulistas e mineiros em torno da indicação de Washigton Luís e Arthur Bernardes e forçada pelo longo governo de Getúlio Vargas (1930-1945) para desqualificar o processo político da Velha República que o mesmo pretendia superar. Anos mais tarde, as ondas grevistas no mar da República atrelaram a partir de 1930, os sindicatos ao governo, não conseguindo paralisar o movimento operário.

José Murilo de Carvalho enfatiza na sua obra Cidadania no Brasil – O Longo Caminho, que exatamente durante um século, o Carioca liderava a maior revolta urbana a que o Rio de Janeiro já assistiu, dizendo “Não!” a obrigatoriedade da vacina contra a Varíola e a Invasão de seus lares imposta pelo governo, resultando grande saldo de revolta com centenas de presos e mortos.

Outro ponto que deve ser destacado é a imigração com disposição total de fazer o Rio de Janeiro e São Paulo, as primeiras capitais a receber a dose da vacina, e nem sempre com seus direitos respeitados.

A guerra do Paraguai não tinha exclusivamente a tropa masculina, mas muitas mulheres tiveram nela participação marcante como Jovita Feitosa que se vestiu de homem e foi ao Paraguai como voluntária, assim outras tantas formaram um exército Invisível.


Ditadura severa, com lutas e conquistas nas leis que até então rege o cidadão brasileiro, encararam revoltas de um presidente populista e assim assistiram o seu suicídio com tamanha pressão oposicionista.

Vinte anos depois da ditadura e de violenta repressão, vários setores da sociedade se uniram e exigiram a volta da democracia. O Movimento, batizado de Direitas Já, foi importante para forçar a volta das eleições diretas marcando desde 1990, um período de desafios, por conta da alta concorrência em escala global, liberando mercados, redução dos gastos sociais do Estado e desmantelamento da legislação social. Em vários setores, sobretudo nos que empregam Tecnologias da Informação, o trabalho manual é cada vez menos necessário. Mas os atuais debates em torno das anunciadas reformas trabalhistas e sindicais estão aí para atestar que os trabalhadores e suas organizações ainda ocupam parte importante das agendas políticas. Luís Inácio Lula da Silva em 1979, época do surgimento do “Novo Sindicalismo” enfrentou os últimos anos da ditadura militar.

E o filme de Glauber Rocha da obra de Guimarães Rosa, é interessante no aspecto relevante da luta entre – Deus e o Diabo na Terra do Sol, a eterna luta entre o bem e o mal. Assim, transparece todo o misticismo do sertão, numa religiosidade medieval baseada apenas nos dois extremos e marcada pelo medo, pavor, inclusive com a preocupação de não invocar o diabo, para que ele não “tome forma, ou forme forma”, daí o diabo ser tratado “Por o que não existe” ou “O que não é, mas finge ser”, e outras expressões semelhantes. Assim é o sertão: ora particular, pequeno e próximo; ora universal e infinito, pois “o sertão é o mundo” ou, melhor ainda, o sertão é dentro da gente”.

A obra readaptada por Glauber Rocha é extraordinária, com tamanha enfatização a fé, ao realizar espiritualmente não importando o caminho e sim realizando a necessidade.

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