A mídia e o seu impacto. Uma análise que sustenta o real desenvolvimento que a mídia transformou a constituição espacial e temporal da vida social, criando novas formas de ação e interação não mais ligadas ao compartilhar de um local comum. As consequências desta transformação têm grande alcance e atingem muitos aspectos de nossas vidas, desde os mais íntimos aspectos da experiência pessoal e da transformação à mutável natureza do poder e da visibilidade do domínio público.
O que proponho nessa análise é o estudo comum com alta dramaticidade da grande narrativa do documentário – O ônibus 174 – feito ao vivo por redes de TV numa época em que se descobria o peso do meio com a relação indivíduo, o vale tudo pela audiência, pela exposição, pela manipulação enfim o ibope prevalece como a palavra chave das redes de TV aberta e fechada.
A sociologia e a abordagem sistêmica
A população da cidade do Rio de Janeiro, parou no dia 12 de junho de 2000 para acompanhar ao vivo pela televisão o sequestro do ônibus 174 na Rua Jardim Botânico. Durante cerca de quatro horas, o assaltante Sandro Nascimento manteve dez das passageiras como reféns. O desfecho foi trágico. Depois de simular que havia matado uma das passageiras, o bandid, o desceu do ônibus usando a professora Geisa Firmo Gonçalves como escudo. Naquele momento, o soldado do BOPE, Marcelo de Oliveira Santos tentou matar o sequestrador. As balas do policial, no entanto, não atingiram apenas a refém, que levou ainda dois tiros disparados pelo assaltante e morreu. O bandido foi asfixiado pelos policiais, enquanto era levado ao hospital Souza Aguiar.
Enquanto a Globo News ficou no ar, direto, com imagens dramáticas do episódio, a TV Globo manteve sua programação normal, inserindo flash’s em seus intervalos comerciais. A cobertura completa do sequestro foi ao ar no Jornal Nacional daquela noite. Evandro Carlos Andrade, na época diretor da CGJ, explica a decisão da emissora: “Nós tivemos duvida em relação à TV aberta uma vez que havia o receio de o sequestrador estoura a cabeça de uma das reféns e nós mostramos a cena. Entendemos, depois, que nossa decisão de não dar continuidade à cobertura foi um erro. O que nós devíamos ter feito e faremos daqui para frente era alertar permanentemente o público, os pais, as famílias, para o risco de mostrarmos uma cena muito chocante. Cabe às famílias tomarem medidas de cautela. Nós achamos que devemos transmitir os acontecimentos. E, se fosse hoje, levaríamos ao ar também na TV aberta, porque é um fato que causa expectativa. E, se nós temos acesso, o público também deve ter. Caso contrário, estaremos censurando a informação.”
Posicionando a questão, o tema da relação entre violência e televisão não é novo.
Ambos estão estreitamente vinculados e constituem a temática da ordem do dia em várias sociedades, possuindo, portanto, um significado cultural. Na atualidade, essa relação que se torna cada vez mais sólida e frequente tem despertado a atenção de diferentes setores da sociedade, e de pesquisadores das ciências sociais e da comunicação, que buscam, com diferentes aportes, explicitar a intrigante e polêmica relação: violência e televisão.
Essas pesquisas, fundamentadas em diferentes perspectivas teóricas e estratégias metodológicas, têm produzido resultados contraditórios. Os pesquisadores coincidem em afirmar que é difícil determinar a forma e a magnetude com que os conteúdos violentos, que habitam o cotidiano da televisão, afetam as pessoas, uma vez que a sociedade está composta por grupos, segmentos sociais e indivíduos que vivem em contextos pessoais, socioculturais e religiosos diferentes, dificultando, portanto, a generalização dos dados e a interpretação conclusiva dos resultados.
A preocupação que nos move nessa reflexão não recai sobre o estudo da violência em si, tampouco sobre os efeitos que os meios de comunicação causam no comportamento das pessoas ou grupos. O intento é mais simples: move-se no sentido de analisar como a violência é representada nas notícias dos informativos de televisão. Em outras palavras, buscamos recortar o espaço imaginário da televisão, investigando como se constrói a representação da violência por meio das notícias transmitidas nos telejornais de maior audiência no Brasil, respectivamente, Jornal Nacional (Rede Globo de Televisão) e (Jornal da Record de Televisão) no ano de 1999.
Interessa-nos, sobretudo, identificar como os noticiários de televisão constroem e trabalham um conjunto de representações inseridas no dia-a-dia do telespectador brasileiro, como também averiguar os processos de mediação e interação estabelecidos entre os discursos veiculados e a construção da realidade oferecida ao público.
O dia 12 de junho de 2000 entra para a história da televisão brasileira como o dia em que os telespectadores assistiram pela primeira vez a uma execução ao vivo. O país surpreende-se com imagens de violência transmitidas diretamente do cenário do crime, no Rio de Janeiro. As cenas enredas por imagens de extrema crueldade, foram captadas por uma câmara da Companhia de Engenharia de Tráfego da Prefeitura do Rio (os diálogos mantidos pelos personagens do drama não eram audíveis) e transmitidas pela TV a cabo Globo News e pela Rede Record. Dois estudantes de jornalismo da PUC/Rio também registraram a tragédia imagética, quando gravavam um programa para a TV Universitária.
Sandro, 20 anos, ex-menino de rua e sobrevivente da chacina da Candelária, assalta, no Dia dos Namorados, um ônibus urbano na zona sul carioca, tomando uma professora como refém, esse passageiro 174, juntamente com familiares, policiais, sequestrador e espectadores parecem ser protagonistas de um filme de longa-metragem, com mais de quatro horas de duração. Entretanto, diferenças substantivas distinguem as cenas de violência urbana transmitidas ao vivo das cenas de violência das películas do cinema: a ausência de um roteiro previamente definido e a pouco ou nenhuma possibilidade de um final feliz.
Uma das reféns do sequestro do ônibus, uma estudante de 20 anos, declara que procurou manter a calma durante o acontecimento. “Vi que o bandido era passível de diálogo. Perguntei se ele sabia quem era a maior vitima da situação. Ele disse que não. Eu respondi: você”.
Enquanto o diretor de jornalismo da Rede Globo elogia essa cobertura dramática, dizendo que: Se o público não tivesse testemunhado, engoliria versões oficiais”.
O diretor da Rede Record, Luís Gonzaga Mineiro, na reportagem à revista Istoé, de 22/06/2000, admitiu pequenos excessos na cobertura da rede de televisão”. Houve exagero por parte de ambas como a música de suspense que acompanhava a transmissão”.
Ex-menino de rua, o sequestrador é agora mais uma das vítimas da violência policial, depois da excussão de seus pares da Candelária. Em uma redação, Sandro, com ainda 13 anos, revela os desencontros de um país marcado por desigualdades econômicas e sociais estruturais: “Eles não são animais não. São crianças indefesas sem nenhuma riqueza”. A identidade dos meninos de rua é assim construída pela negação e por uma atitude de defesa.
É nesse contexto sociomediático, em que a violência da tela goteja no imaginário dos telespectadores, que nos aproximamos do estudo das notícias de violência nos telejornais de cobertura nacional, analisando comparativamente os conteúdos informativos sobre violência veiculados, identificando os discursos em circulação que conduzem ao enquadramento da problemática, indicando o tratamento jornalístico oferecido e extraindo daí as formas de representação social da realidade da violência nos noticiários de televisão.
Por se tratar de um amplo e polêmico fenômeno, tanto do ponto de vista moral como ético, aproximamos da problemática relação entre violência, televisão e cotidiano por meio da materialidade da notícia audiovisual, ou seja, investigando aquilo que é comum no material informativo produzido e veiculado, consumido pelos diferentes públicos, que assistem, ao noticiários de televisão e por meio deles se informam.
Portanto a televisão é a principal mídia mundial e a sua inserção social é das mais elevadas, principalmente no Brasil, onde funciona como substituta de outras opções culturais e como a principal fonte de informação da maioria da população e a violência é representada socialmente como problema de ordem pública, cuja a solução depende de medidas e de ações policiais e do Poder Judiciário por meio dos tribunais de justiça.
As reportagens de violência são assim; uma mistura de narração e representação. Narração feita pela voz em off, pela presença da câmara do jornalista enfim é pelo extraordinário da situação que se estabelece a comunicação com o público.
Sangue na tela, esta é a representação da violência nos noticiários de televisão no Brasil, é a imposição do real e a construção da realidade seja ela também simulada.
O que proponho nessa análise é o estudo comum com alta dramaticidade da grande narrativa do documentário – O ônibus 174 – feito ao vivo por redes de TV numa época em que se descobria o peso do meio com a relação indivíduo, o vale tudo pela audiência, pela exposição, pela manipulação enfim o ibope prevalece como a palavra chave das redes de TV aberta e fechada.
A sociologia e a abordagem sistêmica
A população da cidade do Rio de Janeiro, parou no dia 12 de junho de 2000 para acompanhar ao vivo pela televisão o sequestro do ônibus 174 na Rua Jardim Botânico. Durante cerca de quatro horas, o assaltante Sandro Nascimento manteve dez das passageiras como reféns. O desfecho foi trágico. Depois de simular que havia matado uma das passageiras, o bandid, o desceu do ônibus usando a professora Geisa Firmo Gonçalves como escudo. Naquele momento, o soldado do BOPE, Marcelo de Oliveira Santos tentou matar o sequestrador. As balas do policial, no entanto, não atingiram apenas a refém, que levou ainda dois tiros disparados pelo assaltante e morreu. O bandido foi asfixiado pelos policiais, enquanto era levado ao hospital Souza Aguiar.
Enquanto a Globo News ficou no ar, direto, com imagens dramáticas do episódio, a TV Globo manteve sua programação normal, inserindo flash’s em seus intervalos comerciais. A cobertura completa do sequestro foi ao ar no Jornal Nacional daquela noite. Evandro Carlos Andrade, na época diretor da CGJ, explica a decisão da emissora: “Nós tivemos duvida em relação à TV aberta uma vez que havia o receio de o sequestrador estoura a cabeça de uma das reféns e nós mostramos a cena. Entendemos, depois, que nossa decisão de não dar continuidade à cobertura foi um erro. O que nós devíamos ter feito e faremos daqui para frente era alertar permanentemente o público, os pais, as famílias, para o risco de mostrarmos uma cena muito chocante. Cabe às famílias tomarem medidas de cautela. Nós achamos que devemos transmitir os acontecimentos. E, se fosse hoje, levaríamos ao ar também na TV aberta, porque é um fato que causa expectativa. E, se nós temos acesso, o público também deve ter. Caso contrário, estaremos censurando a informação.”
Posicionando a questão, o tema da relação entre violência e televisão não é novo.
Ambos estão estreitamente vinculados e constituem a temática da ordem do dia em várias sociedades, possuindo, portanto, um significado cultural. Na atualidade, essa relação que se torna cada vez mais sólida e frequente tem despertado a atenção de diferentes setores da sociedade, e de pesquisadores das ciências sociais e da comunicação, que buscam, com diferentes aportes, explicitar a intrigante e polêmica relação: violência e televisão.
Essas pesquisas, fundamentadas em diferentes perspectivas teóricas e estratégias metodológicas, têm produzido resultados contraditórios. Os pesquisadores coincidem em afirmar que é difícil determinar a forma e a magnetude com que os conteúdos violentos, que habitam o cotidiano da televisão, afetam as pessoas, uma vez que a sociedade está composta por grupos, segmentos sociais e indivíduos que vivem em contextos pessoais, socioculturais e religiosos diferentes, dificultando, portanto, a generalização dos dados e a interpretação conclusiva dos resultados.
A preocupação que nos move nessa reflexão não recai sobre o estudo da violência em si, tampouco sobre os efeitos que os meios de comunicação causam no comportamento das pessoas ou grupos. O intento é mais simples: move-se no sentido de analisar como a violência é representada nas notícias dos informativos de televisão. Em outras palavras, buscamos recortar o espaço imaginário da televisão, investigando como se constrói a representação da violência por meio das notícias transmitidas nos telejornais de maior audiência no Brasil, respectivamente, Jornal Nacional (Rede Globo de Televisão) e (Jornal da Record de Televisão) no ano de 1999.
Interessa-nos, sobretudo, identificar como os noticiários de televisão constroem e trabalham um conjunto de representações inseridas no dia-a-dia do telespectador brasileiro, como também averiguar os processos de mediação e interação estabelecidos entre os discursos veiculados e a construção da realidade oferecida ao público.
O dia 12 de junho de 2000 entra para a história da televisão brasileira como o dia em que os telespectadores assistiram pela primeira vez a uma execução ao vivo. O país surpreende-se com imagens de violência transmitidas diretamente do cenário do crime, no Rio de Janeiro. As cenas enredas por imagens de extrema crueldade, foram captadas por uma câmara da Companhia de Engenharia de Tráfego da Prefeitura do Rio (os diálogos mantidos pelos personagens do drama não eram audíveis) e transmitidas pela TV a cabo Globo News e pela Rede Record. Dois estudantes de jornalismo da PUC/Rio também registraram a tragédia imagética, quando gravavam um programa para a TV Universitária.
Sandro, 20 anos, ex-menino de rua e sobrevivente da chacina da Candelária, assalta, no Dia dos Namorados, um ônibus urbano na zona sul carioca, tomando uma professora como refém, esse passageiro 174, juntamente com familiares, policiais, sequestrador e espectadores parecem ser protagonistas de um filme de longa-metragem, com mais de quatro horas de duração. Entretanto, diferenças substantivas distinguem as cenas de violência urbana transmitidas ao vivo das cenas de violência das películas do cinema: a ausência de um roteiro previamente definido e a pouco ou nenhuma possibilidade de um final feliz.
Uma das reféns do sequestro do ônibus, uma estudante de 20 anos, declara que procurou manter a calma durante o acontecimento. “Vi que o bandido era passível de diálogo. Perguntei se ele sabia quem era a maior vitima da situação. Ele disse que não. Eu respondi: você”.
Enquanto o diretor de jornalismo da Rede Globo elogia essa cobertura dramática, dizendo que: Se o público não tivesse testemunhado, engoliria versões oficiais”.
O diretor da Rede Record, Luís Gonzaga Mineiro, na reportagem à revista Istoé, de 22/06/2000, admitiu pequenos excessos na cobertura da rede de televisão”. Houve exagero por parte de ambas como a música de suspense que acompanhava a transmissão”.
Ex-menino de rua, o sequestrador é agora mais uma das vítimas da violência policial, depois da excussão de seus pares da Candelária. Em uma redação, Sandro, com ainda 13 anos, revela os desencontros de um país marcado por desigualdades econômicas e sociais estruturais: “Eles não são animais não. São crianças indefesas sem nenhuma riqueza”. A identidade dos meninos de rua é assim construída pela negação e por uma atitude de defesa.
É nesse contexto sociomediático, em que a violência da tela goteja no imaginário dos telespectadores, que nos aproximamos do estudo das notícias de violência nos telejornais de cobertura nacional, analisando comparativamente os conteúdos informativos sobre violência veiculados, identificando os discursos em circulação que conduzem ao enquadramento da problemática, indicando o tratamento jornalístico oferecido e extraindo daí as formas de representação social da realidade da violência nos noticiários de televisão.
Por se tratar de um amplo e polêmico fenômeno, tanto do ponto de vista moral como ético, aproximamos da problemática relação entre violência, televisão e cotidiano por meio da materialidade da notícia audiovisual, ou seja, investigando aquilo que é comum no material informativo produzido e veiculado, consumido pelos diferentes públicos, que assistem, ao noticiários de televisão e por meio deles se informam.
Portanto a televisão é a principal mídia mundial e a sua inserção social é das mais elevadas, principalmente no Brasil, onde funciona como substituta de outras opções culturais e como a principal fonte de informação da maioria da população e a violência é representada socialmente como problema de ordem pública, cuja a solução depende de medidas e de ações policiais e do Poder Judiciário por meio dos tribunais de justiça.
As reportagens de violência são assim; uma mistura de narração e representação. Narração feita pela voz em off, pela presença da câmara do jornalista enfim é pelo extraordinário da situação que se estabelece a comunicação com o público.
Sangue na tela, esta é a representação da violência nos noticiários de televisão no Brasil, é a imposição do real e a construção da realidade seja ela também simulada.
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